Todos os teóricos e colegas da saúde mental que conheci nestes quase 10 anos de estudos sobre a psiquê humana, de certa forma acreditam (cada qual na sua área) que há melhorias significativas para o indivíduo portador de algum transtorno mental (ainda interrogado pela ciência) e, esta melhoria se dá sobre os serviços multi e transdisciplinares, sobre a aceitação da sociedade frente a um ‘diferencial’. Na aposta do laço social para a mudança da coletividade como Toda.

Minha experiência com a esquizofrenia começou na graduação em Psicologia, onde realizei estágio em uma clínica de dependência química, lá os internos ficavam 6 meses confinados. Juntavam psicose com neurose obsessiva, viciados em álcool com viciados em cocaína, todos pelos ’12 passos’ para não repetirem tal pulsão e chegar ao ‘Outro Pai religioso’. Os próprios rapazes questionavam o tratamento, já que uniam esquizofrênico ( ‘que bebeu muito e teve um surto psicótico’ ) com homem cujo vício pelo álcool ocorria por 30 anos. O rapaz diagnosticado pela psiquiatria era bem simpático e gentil, parecia que só queria alguém para conversar, mesmo relatando algo Irreal.

Depois, tive a oportunidade de realizar um trabalho com moradores de rua, e lá encontrei muitos ‘Gilson’s’. Gilson foi um rapaz que por estar vestido diferente da maioria e morador de rua, foi proibido de entrar na biblioteca (mesmo sendo um homem inteligente e com uma cultura invejável). Infelizmente estamos sob o Discurso Capital, conhecimento é balburdia para a política atual.

Anos mais tarde, atendi um rapaz muito legal, também fora diagnosticado com esquizofrenia. Sonho dele era ter algum trabalho na rádio (ele têm muito conhecimento sobre música), desejava ganhar certo capital para ajudar sua mãe com as despesas (ela sustenta a família), ter amigos como qualquer outra pessoa, ir em shows e cinema. Ele têm certas limitações cognitivas e delírios, porém é uma pessoa excelente, gentil e honesto.

Um dos casos mais famosos na Psicanálise é o caso de Schreber. O caso se debruça sobre um homem que teve uma educação rígida por seu pai e, perda precoce de sua mãe. Um magistrado renomado, porém quando foi reconhecido em seu valor, convidado para ocupar a cadeira mais importante do Direito na época – o 1° surto se desencadeou.

Há profissionais da saúde se debruçando nos estudos deste ‘diferente modo de ver e sentir o mundo’, porque acreditam que internamente, existe um sujeito e, que este têm medos e sonhos, e merece desfrutar da liberdade de ser quem é. O ganho maior será de toda a sociedade, todos convivendo e aceitando cada um, em sua singularidade e transmutando na criação de possibilidades de lidarmos com nossas pulsões e vazios mais obscuros.

Acredito num mundo onde as pessoas possam atuar com suas potencialidades, desenhar e colorir suas próprias histórias, desenvolver ferramentas saudáveis para transmutar o sofrimento – reconhecer que todos somos diferentes e, esta mistura faz do mundo, um lugar mais ‘feliz’, um Lar.

Não há cura para o transtorno, porém a pessoa pode ter uma vida com projetos e sonhos, circular nos diversos espaços públicos, criar laços sociais, através de equipe interdisciplinar e transdisciplinar (T.O., A.T., terapia individual/grupal/familiar, tratamento medicamentoso, se necessário, analisando caso à caso).

Para orientações e auxílio, procurem um CAPs (Centro de Atenção Psicossocial) mais próximo, PROESQ (Programa de Esquizofrenia – Serviço Mental da UNIFESP), um psicanalista com vasta experiência em psicose.

Esperança realista e as possibilidades na vida com Esquizofrenia ❤️

Para uma sociedade múltipla em suas singularidades.

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